1
De
muito andar pelo mundo
Vi
muitas arrumações
Pessoas
que criam no Diabo
Outras
que viram visões
Uns
acreditavam em Deus
Outros em superstições.
2
Vi
cobra engolir pessoa
Vi
lobisomem e Chorão
Falei
com alma penada
Já
vi muita assombração
Coisa
que até Deus duvida
De
fazer medo até o Cão.
3
Numa
de minhas andanças
Num
dia bastante chuvoso
Cheguei
numa freguesia
Vi
um causo curioso
Se
eu contar o povo vai
Me
chamar de mentiroso.
4
Era
na Semana Santa
Sexta-feira
da Paixão
Na
Fazenda Vila Rica
Do
Coronel Zé Leitão
Quando
pisei no terreiro
Encontrei
um barbatão.
5
Era
um boi muito bonito
Gordo
e muito bem-cuidado
Tipo
de gado holandês
O
chifre tava aparado
Pendia
pr’um lado e pro outro
Parecia
tá ensalsado.
6
Quando
saltei do cavalo
Assim
que pisei no chão
O
bicho partiu pra mim
Parecia
um furacão
Mas
de repente caiu
Adormecido
no chão.
7
Pensei:
“Meu anjo da guarda
Com
certeza interferiu,
Este
bicho assim tão grande
Pra
cima de mim partiu
E
antes de me chifrar
Na
minha frente caiu”.
8
No
chão me ajoelhei
Rezei
no meio do terreiro
Umas
vinte ave-marias
Pro
Santo do Juazeiro
Prometi
ao meu Padim
Grande
quantia em dinheiro.
9
Fiz
a promessa em voz alta
Quando
ouvi alguém falar:
–
Seu moço, se alevante
O
boi não vai lhe pegar
Não
carece de promessa
Pra
santo algum lhe ajudar.
10
Este
bicho aí caído
Na
sua frente, estirado,
Com
certeza ia lhe pegar
Pois
ser ele encapetado
Mas
não foi o seu Padim
Que
o protegeu do danado.
11
Este
boi é uma lástima
Brigão,
valente e safado
Vive
causando problema
Confusão
por todo lado
Todo
final de semana
O
bicho fica “chapado”.
12
Confesso,
não entendi
O
que o homem quis dizer
Com
“o bicho fica chapado”
Então
logo eu quis saber
No
que ele respondeu:
–
Ele gosta de beber.
13
O
boi que ali estava
Tinha
sido dum carreiro
Homem
sincero, de bem
Trabalhava
o dia inteiro
Que
dava valor à vida
Não
ligava pra dinheiro.
14
Mas
com ele trabalhava
Um
moleque malcriado
Que
havia fugido de casa
Há
algum tempo passado
E
na casa desse homem
Vivia
como agregado.
15
Num
certo dia uma vaca
Pariu
uma bela cria
Um
bezerrão holandês
E
todo mundo dizia:
–
Vai ser o mais belo touro
Aqui
desta freguesia.
16
Uma
semana depois
Na
saída do cercado
Uma
cobra cascavel
Entrou
no meio do gado
Matando
a vaca Rainha
Deixando
o filho enjeitado.
17
Sabiá,
o agregado
Cuidou
logo de tratar
Do
bezerro desmamado
Dando
a ele de mamar
E
o bichinho logo, logo,
Começou
dele a gostar.
18
Batizou-lhe
de Taboca
Por
que este nome não sei
Pensei
em lhe perguntar
Mas
nunca me informei
Taboca
ali ia crescendo
E
tinha aspecto de rei.
19
Mas
o moleque era ruim
Logo
começou a beber
Fumava
feito caipora
E
sem o velho saber
Botava
a boca do litro
Para
Taboca lamber.
20
De
vez em quando botava
Cachaça
na mamadeira
E
o garrote bebia
Parecia
uma brincadeira
Logo
ficou viciado
E
caiu na bebedeira.
21
Depois
aprendeu fumar
Pois
o moleque ensinou
Então
bebia e fumava
Ligeiro
se acostumou
Começou
isso aos seis meses
De
lá pra cá não parou.
22
O
velho entusiasmado
Começou
a me dizer
Os
causos do boi Taboca
Quando
dava pra beber
Era
cada palhaçada
Que
precisava se ver.
23
Numa
festa de São João
Tava
o povo em brincadeira
Taboca,
não sei por que,
Caiu
numa bebedeira
Mijou
em cima do fogo
Para
apagar a fogueira.
24
Depois
saiu coiceando
Chifrando
quem aparecia
A
mulherada gritava
A
meninada corria
Furou
a caixa do som
Acabando
a alegria.
25
Depois
entrou na igreja
Lá
o bicho embrabeceu
Derrubou
o lampião
E
a igreja escureceu
Cagou
dentro, quebrou santo
Até
o padre correu.
26
Bagunçou
o botequim
Tudo
que tinha comeu
Virou
mesa, quebrou banca
Toda
a cerveja bebeu
Depois
que encheu a cara
O
danado adormeceu.
27
Um
dia Taboca chegou
Nu’a
festa de casamento
Meteu
o coice na porta
Entrando
de casa adentro
Comeu
o bolo da noiva
No
mais puro atrevimento.
28
Deu
uma chifrada no noivo
E
da noiva o véu rasgou
Coiceou
a cozinheira
A
comida derramou
Bebeu
um litro de cana
E
só depois se acalmou.
29
Certa
noite num forró
Queria,
que queria entrar
Bebeu
e botou boneco
Depois
começou brigar
Deu
tanto coice em soldado
Que
dá pena até contar.
30
Um
dia chegou num velório
Foi
coiceando o caixão
Comeu
a coroa de flores
Jogou
o defunto no chão
Chifrou
a bunda dum velho
Deixando-o
só de calção.
31
Já
bagunçou batizado
Já
fez culto terminar
Bebeu
cana de despacho
Fez
delegado chorar
Quando
bebe, nem o capeta
Faz
o bicho se acalmar.
32
Tem
pra mais de trinta filhos
Este
boi fora-da-lei
Alguns
fumam, outros bebem
Se
é verdade eu não sei
Esta
é a história do velho
Eu
apenas recontei.
Fim
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