quarta-feira, 22 de maio de 2013

Poesia matuta: A dura vida na roça


Quando a passarada canta
O cabôco se alevanta
Do corpo a moleza ispanta
Dá um chêro na muié
Ela ali se ispriguiçano
Vai logo se alevantano
E os dois vão cunversano
Pra cozinha fazê café.

Dispois desse ritual
O cabra vai pro curral
Pois seu dever matinal
É tirar leito do gado
Essa rotina é sagrada
Não pode dexá por nada
Adispois bate a inxada
E arroxa pro roçado.

Se a terra tá bem moiada
O cabra desce a inxada
Num qué sabê de mais nada
Eito de mato caino
o sol aos pôco isquentano
E ele a inxada puxano
O suó desce, pingano
Mais este é o seu distino.

O ligume tá u'a beleza
É essa a maió riqueza
Qui a santa mãe natureza
dá ao cabôco da roça
Qui trabaia no pesado
O dia todo no roçado
E sente um orgúio danado
De ser homi de mão grossa.

O feijão vai inramano
O mi tombém se impaiano
E o mato acompaiano
E o cabra coçano a venta
E diz: o mato é pesado
Nem que eu morra de cansado
Mais eu num faço roçado
Pra intregar pra jumenta.

Levanta cum o arrebol
Trabaia de sol a sol
Cruvado ingual caracol
Derrubano a jitirana
Vida de rocêro é assim
A luta nunca tem fim
Só se civerti um poquim
Lá pro final de semana.

E assim se leva a vida
Na roça é pesada a lida
Mais num tem ôta saída
Pra quem num quis istudá
A escola é a picareta
O professor é a marreta
A inxada é a caneta
E o verbo é istudá.

Chico Mufumbo

Um comentário:

JOgue seu comentário no Uru.