domingo, 16 de agosto de 2020

CEM MIL

 


 

Diante do caos

Que abalou o mundo

Ficamos sem remo

Em um mar sombrio

Sozinhos, jogados

Ao vento da sorte

Nos braços da Morte

Em um túmulo frio

E o capitão, por ignorância,

Deixou frouxo o leme do próprio navio.

 

Cem mil já se foram

Morreram sozinhos

Sem pais nem amigos

Na enfermaria

Sem enterro digno

Sem se despedir

Sem flores, sem vela

E sem companhia

Da forma mais triste de deixar a vida

Um adeus solitário no seu último dia.

 

Milhares de filhos

Milhares de irmãos

Milhares de mães

Milhares de pais

Milhares de avós

Milhares de amigos...

Sonhavam voltar

Não voltaram mais

Milhares de sonhos, milhares de planos

Milhares de vidas ficaram pra trás.

 

Viraram só número

Da fria estatística

Na triste audiência

Do noticiário

A Morte sem freio

Aumenta esse dígito

Cruel, assombroso

Num ritmo diário

E assim as famílias carregam suas cruzes

Fincando no topo do próprio calvário.

 

Tremendo de medo

Num canto qualquer

Fica a própria vida

Sem mais confiança

No porta-retrato

Ficou a saudade

Nos cômodos da casa

Só resta a lembrança

No fundo do peito a vida tateia

Tentando agarrar-se a um fio de esperança.

 

João Rodrigues – Reriutaba – Ceará

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