sexta-feira, 20 de março de 2020

O pensador / Sertão: duas almas

Poemas classificados no Concurso Literário "O Velho Matemático", 2014, Brasília.


O pensador

Pensa e repensa, ponderando o caos,
Mergulhando fundo no processo humano,
Por entre certeza e triste desengano
Vê-se que os bons são frutos dos maus.

Singrando o cérebro como velhas naus,
Que, lentas, exploram todo o oceano
Com o vasto pensamento freudiano
Vai avançando degraus a degraus.

Até que enfim o pobre pensador
entende a vida e percebe que o amor
Acolhe a todos de seu próprio jeito.

Que o Divino aceita o sagrado e o profano
Que as imperfeições são parte de um plano
Para aprimorar o que é imperfeito.

João Rodrigues Ferreira

Sertão: duas almas

Chão desvalido, rachado e estéril
Sem seiva, sem relva, sem sangue, sem brio
Que traz o fantasma da fome, funéreo,
Dentes afiados, de olhar sombrio.

Outrora vivaz, majestoso, etéreo;
Solo produtivo, tão fértil e bravio.
A seca insolente lança-te impropério,
Torna-te impotente, inútil, vazio.

Mas quando São Pedro, do topo do céu
Banha a caatinga com o finíssimo véu
Saciando a sede, banhando o sertão,

Alegra-se o gado, sorrio o lavrador
Que canta louvores a Deus Salvador
Por trazer à terra a ressurreição.

João Rodrigues Ferreira

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