Conto classificado na Coletânea Natal Prosa e Verso – Edição Internacional – 2015 - Português / Espanhol (Torres - Rio Grande do Sul)
As ruas estavam enfeitadas. Lojas e
shoppings decorados com árvores de Natal e milhares de luzes coloridas que
piscavam intermitentemente. O clima natalino pairava no ar. Fogos de artifícios
estouravam aqui e ali. Algumas pessoas ainda passavam correndo em direção ao
lar. Certamente a ceia estava sendo preparada e os familiares as esperavam para
a confraternização. Toda casa tinha uma mesa farta, repleta de bebidas,
panetones, rabanadas e uma infinidade de guloseimas. Crianças correndo pra lá e
pra cá brincando com seus presentes que o Papai Noel trouxera. Uma música
animada convidava todos a uma dança. Rostos alegres distribuíam sorrisos a
todos que passavam. Apesar do frio que fazia, o calor humano aquecia tudo, e
para aqueles mais frientos ainda existia um casaco de peles ou uma jaqueta. Era
Natal. Nada perturbava aquele clima. Todos estavam unidos pelo mesmo espírito
de paz e amor.
Mas como para toda
regra há uma exceção, havia alguém ali que não tinha razões para se sentir
assim. Não fora contagiado pelo espírito natalino. Pois o espírito natalino não
invade almas, ele tem que se deixar entrar. Para isso, o coração tem de estar
alegre, e nem todos têm motivos para isso. Nem mesmo naquela alegre noite, o
Pivete via razões para alegrar-se.
Para todos os lados
que o Pivete olhava via cores, luzes, guloseimas, crianças brincando com
brinquedos novos e coloridos. As ruas animadas contrastavam com o seu rosto
triste, e seu estômago ansiava por pelo menos algumas migalhas das mesas fartas
das casas abastadas. As cores e o brilho das ruas não eram suficientes para
afastar a escuridão que repousava em sua alma, nem as centenas de pessoas que
frequentavam ruas e praças naquela noite eram capazes de lhe oferecer um pouco
de companhia.
Entrou na igreja.
Lá dentro havia um presépio, e viu o menino Jesus deitado, cercado de animais e
vigiado por Maria e José. Onde andariam seus pais agora? Sentou-se em um dos
bancos em frente ao presépio, tentou se lembrar de seus rostos, mas apenas uma
mancha passava por sua mente – a fome não o deixava pensar. Fazia frio lá fora.
Sentiu um pouco de conforto com o calor das velas, com a limpeza do assoalho; o
branco das paredes lhe deu uma sensação de paz. A paz que nunca havia sentido,
nem mesmo quando vivia com a mãe. Teve vontade de que ela aparecesse ali. Lembrou-se
dela abraçando-o. Era um abraço gostoso... e teve vontade de abraçá-la também.
Um fio de lágrima escorreu de seus olhos. Olhou outra vez para fora, viu mães
segurando seus filhos pela mão, desviou o olhar, mas ao virar-se viu o menino
Jesus acompanhado dos pais. Já tinha ouvido falar de Jesus, o filho de Deus.
Até Ele tinha pais! Quis ser o menino Jesus, sentiu vontade de entrar no
presépio, mas teve medo. Sempre tinha medo.
Algumas pessoas já
começavam a chegar à igreja. Umas o olhavam, desconfiadas; outras nem mesmo
sentiam sua presença. Deu uma última olhada para o menino Jesus, e sentiu uma
pontinha de inveja. Mais pessoas chegavam. A igreja estava ficando cheia.
Saiu. A solidão
estava lhe esperando na porta. Sentiu o frio lhe abraçar, cruzou os braços. Os
sinos dobravam, anunciando o Natal. Fogos estouravam no ar, espalhando diante
de seus olhos luzes coloridas. Distraiu-se um pouco. Saiu correndo para ver uma
queima de fogos ali perto.
Meia-noite. Homens,
mulheres e crianças se abraçavam e trocavam presentes, bebiam e comiam à
vontade. Confraternizavam-se. A TV começava a apresentar a Missa do Galo. A
paz, a comunhão, a solidariedade, o amor ao próximo... O clima de Natal
espalhava-se pelo ar e atingia a todos, menos o Pivete, que olhava o pipocar
dos fogos, indiferente. Para ele todas as noites eram iguais, pois certamente
não conhecia aquelas palavras, assim como também não sabia de que forma saciar
sua fome.
E saiu, sozinho,
pelas tristes ruas de uma alegre noite de Natal.
João Rodrigues Ferreira
Navidad con otros ojos
Las calles estaban adornadas. Locales y shoppings adornados con árboles de navidad y miles de luces coloradas que brillaban intermitentemente. El clima navideño llenaba el aire. Pirotecnia explotaba aquí y allá. Algunas personas aún pasaban corriendo hacia la casa. Seguramente se preparaba la cena y los familiares las esperaban para lá confraternización. En toda casa había una mesa abundante, repleta de bebidas, panettones, rebanadas y una infinidad de golosinas. Niños corriendo por la casa y jugando sus regalos que el Papá Noel les había traído.
Una música alegre les invitaba a todos para bailar. Rostros felices distribuían sonrisas a todos los que pasaban. A pesar del frío, el calor humano lo calentaba todo, y para los que sentían más frío había el abrigo de pieles o una chaqueta. Era Navidad. Nada pertubaría aquel clima. Todos estaban unidos por el mismo espíritu de paz y amor.
Pero como para todo regla hay una excepción, había alguien ahí que no tenía razones para sentirse así. No había sido contagiado por el espíritu navideño. Porque el espíritu navideño no invade almas, se lo tiene que dejar entrar a uno. Para ello, el corazón debe estar alegre, y no todos tienen motivos para esto. Ni en aquella noche el niño veía algo por qué alegrarse.
Adonde mirara veía colores, luces, golosinas, niños que jugaban con juguetes nuevos e colorados. Las calles animadas contrastaban con su rostro triste, y su estómago ansiaba por, por lo menos, algunas migas de las mesas llenas de las casas más favorecidas. Los colores y el brillo delas calles no eran lo suficiente para alegrar a la oscuridad que le reposaba en el alma, ni las muchas personas que pasaban por las calles y plazas aquella noche eran capaces de ofrecerle un poco de compañía.
Entró a la iglesia. Adentro había un presepio, y vio al ninõ Jesús acostado, rodeado por animales y por María y José. Dónde estarían sus padres ahora? Se sentó en uno de los bancos delante del presepio, trató de recordarles el rostro, pero solamente una mancha le venía en la mente - el hambre no le dejaba pensar. Hacía frío afuera.
Sintió un poco de comodidad con el calor de las velas, con la limpieza del piso; la blancura de las paredes le dio una sensación de paz. La paz que nunca había sentido, aun cuando vivía con la madre. Tuvo ganas de que ella le apareceriera ahí. Se acordó de su abrazo. Era un abrazo rico... y tuvo ganas de abrazarla. Una gota de lágrima le resbaló por la cara. Miró otra vez hacia afuera, vio a madres que sostenían a sus hijos por las manos, desvió la mirada, pero al volverse vio el niño Jesús acompanãdo por sus padres.
Ya había escuchado hablar de Jesús, el hijo de Dios. Hasta Él tenía padres! Quería ser el niño Jesús, sentió ganas de entrar en el presepio, pero tuvo miedo. Siempre tenía miedo.
Algunas personas ya llegaban a la iglesia. Unas lo miraban, desconfiadas; otras no le notaban la presencia. Le echó un último vistazo al niño Jesús, y sintió un poquito de envidiade él. Llegaban más personas. Se llenaba la iglesia.
Salió. Lá soledad le estaba esperando en la puerta. Sentió el frío que le abrazaba, cruzó el brazo. Doblaban las campanas para anunciar la Navidad. La pirotecnia llenaba el aire, esparciendo frente a sus ojos luces coloradas. Se distrajo un poco. Salió corriendo para ver más cerca la pirotecnia.
Medianoche. Hombres, mujeres, nbiños se abrazaban y intercambiaban regalos, bebían y comían libremente. Confraternizaban. La tele comenzaba a presentar la Misa del gallo. La paz, la comunión, la solidariedad, el amor al prójimo... El clima de navidad se esparcía por el aire y alcanzaba a todos, menos al niño, que miraba la pirotecnia, indiferente. Para él todas las noches eran iguales, porque seguramente no conocía aquellas palabras, como tampoco sabía de qué manera podría saciarse el hambre.
Y salió, pos las tristes calles de una alegre noche navideña.
João Rodrigues Ferreira
Nenhum comentário:
Postar um comentário
JOgue seu comentário no Uru.