domingo, 26 de junho de 2022

Novo cordel: A CASA VELHA DE TAIPA

 Acaba sair meu mais recente Cordel: A CASA VELHA DE TAIPA.



Composto por 16 estrofes de 7 sílabas e com xilogravura do xilógrafo potiguar Jefferson Campos,  "A casa velha de taipa" conta a história em que o eu poético se encontra na velha casa de taipa onde morou e se vê em um porta-retrato. Este retrato, pintado por algum artista, mostra ele, o pai e a mãe em outra realidade, cercado de coisas, diferentemente de sua realidade.

No entanto, ele começa a voltar ao passado e recorda cenas emocionantes vividas décadas atrás; cenas que o retratista que os pintou não conseguiu captar.

Uma leitura emocionante, capaz de nos levar à infância.

Eis algumas estrofes.


A casa velha de taipa

1

Na casa velha de taipa

Onde morei lá no mato

Eu resgatei minha história

Num velho porta-retrato

Mamãe comigo pequeno

Papai de rosto sereno

Posava sem ter vontade

O artista e sua destreza

Tentavam mostrar riqueza

Onde só tinha humildade.

2

Papai empaletozado

Que o retratista criou

Cobrindo a pele queimada

Que o vapor do sol queimou

Mamãe muito maquilada

De roupa branca, engomada

Eu bem gordinho e linheiro

Tinha no sorriso um brilho

Que mais parecia com filho

De um ricaço fazendeiro.

3

Bem assim atrás da gente

Tinha uma verde paisagem

Saltando d’água uns peixinhos

De uma bonita barragem

Um touro gordo pastando

Um belo cisne nadando

Chega suas asas brilhavam

Na barragem reluzente

E bem de frente ao nascente

Uns passarinhos voavam.

4

Quem visse aquele retrato

Com toda aquela magia

Não via o que ti’a por trás

Daquela fotografia

O fato é que o retratista

Com a sua alma de artista

Repleto de boa vontade

Ou talvez sem perceber

Fez assim para esconder

A nossa simplicidade.

5

Mas quando olhei para o lado

Vi num canto da parede

Um torno de aroeira

Onde eu pendurava a rede

Vi mamãe me balançando

Uma cantiga cantando

Me botando pra dormir

Meu irmão se balançava

Mamãe depressa gritava:

“Cuidado pra não cair!”

[...]

Dei uma olhada na sala

Vi nossa maior beleza

Um rádio antigo de pilha

Tocando em cima da mesa

Devidamente forrada

Com a toalha bordada

Que mãe comprou de titia

De tarde o forró troava

Mas às seis horas parava

Pra tocar “Ave-Maria”.

[...]

Meu nariz denunciou

Um cheiro lá na cozinha

Quando entrei nela, vi mãe

Temperando uma galinha

Ela me disse: “Ande! Venha!

Pegue mais dois paus de lenha

Bote no fogão agora.

Pois seu pai já vem chegando!

Escutei ele falando

No terreiro lá de fora.”

[...]

Ali, por alguns minutos,

Fiquei olhando o terreiro

Vi um ninho de rolinha

No galho de um cajueiro

Dois filhotes bem cuidados

Juntinhos, alimentados

Dormindo com confiança

Olhei pro meu velho abrigo

Assim também foi comigo

Nos meus tempos de criança.

16

Na velha casa de taipa

Onde por anos vivi

Após passar muitos anos

Claramente percebi

Que em nossa simplicidade

Existia felicidade

Sempre existiu! Pode crer!

Mas o velho retratista

Mesmo sendo um grande artista

Não conseguiu perceber.

 

João Rodrigues 

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