O Cordel "No terreiro lá de casa" já está prontinho! E a xilogravura é de Jefferson Campos!
No terreiro lá de casa
1
O
tempo passou ligeiro
Parece
até que tem asa
Ele
é daqueles sujeitos
Que
o relógio nunca atrasa
Mas,
por mais que ele corresse
Não
fez com que eu esquecesse
Do
terreiro lá de casa.
2
Meus
cabelos já grisalhos
Denunciam
a minha idade
Os
anos me castigaram
Com
cem quilos de saudade
Mas
pode o tempo correr
Jamais
irei esquecer
Meus
tempos de mocidade.
3
Lembro
dos primeiros passos
Que
eu dei naquele chão
Ainda
muito pequeno
Correndo
só de calção
Mãe
dizia: “Tenha cautela!”
Eu
corria na frente dela
Vez
ou outra um tropicão.
4
Ali,
naquele terreiro
Onde
a saudade passeia
Soltei
pião, joguei bila
Brinquei
de bola de meia
Chorei,
cantei e sorri
E
muito me diverti
Nas
noites de lua cheia.
5
À
noitinha, a netarada
Fazia
a roda no chão
Vovô
contava pra nós
Histórias
de assombração
Eu,
com medo, do seu lado
Ficava
quieto, calado,
Segurando
a sua mão.
6
Depois,
quando ia dormir
Eu
já bastante assombrado
Corria
pra rede da mãe
Me
deitava do seu lado
Ela
ria, me dava um cheiro:
“As
histórias do terreiro
Tão
lhe deixando assustado.”
7
Todo
dia de manhãzinha
Tava
mãe de prontidão
Dando
milho pras galinhas
Com
uma cuia na mão
Os
bichos cercavam ela
Eu
ali do lado dela
Jogando
milho no chão.
8
Era
lá que pai contava
Nas
noites enluaradas
As
aventuras de moço
Histórias
malassombradas
Seu
trabalho de roceiro
Sua
vida de vaqueiro
Suas
incontáveis caçadas.
9
Lembro
que minhas irmãs
No
sábado de tardezinha
Iam
capoeira afora
Em
busca de vassourinha
Para
varrer o terreiro
Daquele
jeito fagueiro
Domingo
de manhãzinha.
10
As
irmãs se levantavam
No
amanhecer do dia
Começava
a varredeira
Juntas,
naquela alegria
Iam
rindo, conversando
A
vassoura iam passando
Chega
a poeira cobria.
11
Aquele
espaço varrido
Era
muito prazenteiro
E
a gente conversava
Na
sombra do cajueiro
Muito
frondoso e florado
Deixando
mais enfeitado
Nosso
bonito terreiro.
12
No
terreiro bem varrido
O
cachorro se deitava
Galinhas
comiam milho
A
meninada brincava
Se
divertia, satisfeita
E
na época da colheita
Era
onde o feijão secava.
13
Quando
chegava visita
Papai
mandava eu botar
Quatro
ou cinco tamboretes
Para
o povo se sentar
Mamãe,
um café servia
E
ali naquela alegria
Começavam
conversar.
14
Falavam
sobre política
Futebol,
religião
Das
capinas do roçado
Das
apanhas de feijão
De
festa, de farinhada
De
santo, alma penada
E
causos de assombração.
15
Em
época de eleição
O
terreiro era animado
Lotava
cedo da noite
Com
gente do mesmo lado
E
o povo discutia
Quem
ganhava, quem perdia
Quem
virou pro outro lado...
16
Eu
ainda era criança
E
nada disso entendia
Mas
aproveitava a onda
E
também me divertia
O
povo se animava
De
vez em quando um vibrava
E
eu com ele torcia.
17
Outro
momento gostoso
Que
guardo no coração
Eram
as festas juninas
Sempre
tinha animação
Minha
melhor brincadeira
Era
pular a fogueira
Nas
noites de São João.
18
Menino,
moça e rapaz
Se
sentavam na calçada
Ficavam
falando e rindo
Outro
contava piada
Outros
corriam ligeiro
Para
a ponto do terreiro
Arroxar
a namorada.
19
O
tempo, senhor de tudo,
Registrou
com maestria
Ali
naquele terreiro
Belas
horas de magia:
Reisado,
almoço, leilão
Início
e fim de paixão
Serenata
e cantoria.
20
Ali
eu brinquei do toca
De
bandeira, de queimada
Levei
queda, me ralei
Escorreguei,
dei topada
Corria
que fazia poeira
Atirei
de baladeira
E
arranjei namorada.
21
Quanta
peraltice eu fiz!
Quantas
o tempo me fez!
Um
momento mais marcante
Que
lembro com nitidez
Foi
quando me despedi
De
minha gente e saí
De
casa a primeira vez.
22
Lembro
como fosse hoje
Meus
irmãos me abraçando
Mamãe
dizia: “Cuidado!
Papai
me aconselhando
Debaixo
do cajueiro
Parecia
que o terreiro
Também
estava chorando.
23
Que
o mundo dá muitas voltas
É
a mais pura verdade
E
o terreiro onde chorei
Nos
tempos de mocidade
Quando
a família deixei
De
novo nele chorei
Só
que de felicidade.
24
Hoje,
posso observar
Que
o tempo passou ligeiro
Carregou
a minha aurora
E
meu pé de cajueiro
Tudo
ele pode levar
Mas
não pode me tirar
As
lembranças do terreiro.
João
Rodrigues – Reriutaba – Ceará
Saudades do terreiro,da infância e adolescência.
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