quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Sonhos apagados




Eu pensava em ir pro Sul
Pra mode mudar de vida
Até que u’a seca daquelas
Avexou minha partida
Papai, com a voz embargada,
Quis falar, num saiu nada
Enfim, veio me abraçar
Mamãe também me abraçou
Quis falar... inté tentou,
Mas despediu-se cum olhar.

Seu dotô, por vinte ano
Morei na grande cidade
Que tinha lá seus problema,
Muito perigo, é verdade:
Trânsito ruim, muito assalto...
“Coloque as mãos para o alto!”
Se via isso todo dia
Já vi num sei quantas vida
Geralmente interrompida
Por uma bala perdida.

Às vez vindo do trabalho
Lá se vinha um tiroteio
O ônibus superlotado
Parava ali, bem no meio
Começava a gritaria
“Me valha Virgem Maria!”
Só se ouvia gente implorar
A mulherada gritava
Eu, em silêncio, rezava
Ouvindo a bala zoar.

Pensei em voltar pro Norte
Pra poder mudar de vida
Temendo encontrar a morte
Apressei minha partida
Pois já estava cansado
Daquele mundo agitado
E dos perigo, é verdade
Querendo encontrar a paz
Deixei os sonhos pra trás
Voltei pra minha cidade.


Aquela cidadezinha
Tranquila de interior
Ar puro, aromatizado
Com o cheiro de fulô
Papai todo sorridente
Minha mãe, toda contente,
Vieram me abraçar
Foi o mais feliz dos dia
Ah, seu dotô, que alegria
Voltar para o meu lugar.

Aqui eu vivia feliz...
Mas o tempo foi passando
E com o passar do tempo
As coisas foram mudando
“Teve um assalto acolá”
Já se ouvia alguém falar
Eu já ficava assustado
Mas o povo se calava
A paz de novo reinava
E o medo era enterrado.

De repente, a violência
Foi tomando proporção
Pra todo canto que ia
A gente via um ladrão
De noite ninguém andava
Se andasse o ladrão tomava
Seu dinheiro, seu transporte
E o povo do interiô
Pra cidade se mudô
Temendo encontrar a morte.

E hoje até na cidade
Já tá grande a roubalheira
Roubam de noite, de dia
Assim é a semana inteira
Roubam moto, celular
O que cismam de roubar
Já assaltam à mão armada
Bandido fica à vontade
Pior que as autoridade
Ficam aí sem fazer nada.

E aqui de novo tou eu
Praticamente obrigado
A viver todos os dia
Dentro de casa trancado
Bandido atira na praça
Sair já não tem mais graça
Pois posso ser assaltado
Houve aí uma inversão
Quem tá preso é o cidadão
E o bandido liberado.

Seu dotô, tenha clemência
Vosmicê é autoridade
Não deixe que os bandido
Controle a nossa cidade
Aquela com a qual sonhei
Que de saudade chorei
Querendo nela viver
Se o Siô ficar parado
Meu sonho tá condenado
A qualquer hora morrer.


João Rodrigues

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