1
Lá
na terra onde moro
O
sol se põe às seis horas
Onde
assobia o Caipora
No
matagal entrançado
O
vaqueiro bom de gado
Querendo
um boi agarrar
Dá-se
gosto de lembrar
Da
terra onde fui criado.
A
coruja nas estradas
O
viajante acompanha
Um
bezerro cheio de manha
Tá
no curral chiqueirado
Um
rapaz apaixonado
Fica
na noiva a pensar
Dá-se
gosto de lembrar
Da
terra onde fui criado.
Tem
jerimum, tem feijão
Tem
arroz e mandioca
Rapadura
e tapioca
Tem
cuscuz e milho assado
Baião
de dois caprichado
Pra
gente se empanturrar
Dá-se
gosto de lembrar
Da
terra onde fui criado.
No
alpendre a rede armada
Pra
quem quiser se deitar
Pode
dormir e sonhar
Com
o sertão verde e molhado
Um
cachorro bom de gado
Doidinho
pra campear
Dá-se
gosto de lembrar
Da
terra onde fui criado.
No
alpendre tem cangalha
Debaixo
dela a esteira
Um
cabresto e uma perneira
Um
gibão velho e rasgado
Chapéu
de couro ensebado
Que
eu gostava de usar
Dá-se
gosto de lembrar
Da
terra onde fui criado.
Um
velho carro de boi
Debaixo
do cajueiro
Lá
na beira do terreiro
Com
o cabeçalho quebrado
Lembro
do tempo passado
Quando
eu ia carrear
Dá-se
gosto de lembrar
Da
terra onde fui criado.
Uma
reca de capote
Atrepada
no poleiro
O
galo véi no terreiro
“Cobre”
galinha adoidado
Um
rouxinol animado
Frangote
e pinto empenado
Outros
querendo empenar
Dá-se
gosto de lembrar
Da
terra onde fui criado.
No
caco está o café
Torrado
por Mariazinha
Que
já tá quase mocinha
De
coração apaixonado
Se
alembra do namorado
Então
começa a cantar
Dá-se
gosto de lembrar
Da
terra onde fui criado.
Quando
no mês de dezembro
Chega
a primeira chuvada
A
ciricora animada
Canta
num tom arrojado
E
um menino danado
Vai
pra chuva se banhar
Dá-se
gosto de lembrar
Da
terra onde fui criado.
No
riacho tem cará
Biquara,
mussum, bodó
Cangati,
piau, socó
Tem
menino enlameado
Com
um landuá de lado
Doidinho
para pescar
Dá-se
gosto de lembrar
Da
terra onde fui criado.
Tem
cancão, anu, rolinha
Mané-besta
e periquito
Papa-lagarta
e sibito
O
João-de-barro animado
No
meio do barro amassado
Pra
na casa trabalhar
Dá-se
gosto de lembrar
Da
terra onde fui criado.
Tem
Tejo, peba e soim
Num
galho a se balançar
Um
cachorro pra caçar
O
hábil gato pintado
Que
acuado, atrepado
Se
põe, de medo, a miar
Dá-se
gosto de lembrar
Da
terra onde fui criado.
13
Tem
mufumbo, tem pau-branco
Canafista
e juazeiro
Oiticica
e cajueiro
Se
acha por todo lado
E
um menino danado
Querendo
a moita amassar
Dá-se
gosto de lembrar
Da
terra onde fui criado.
Imburana
e marmeleiro
Jurema
preta e angico
Onde
grita o periquito
Comendo
o milho roubado
Que
carrega do roçado
Pra
poder se alimentar
Dá-se
gosto de lembrar
Da
terra onde fui criado.
Tem
melancia-da-praia
Tem
mutamba e canapum
Melancia
e jerimum
Feijão-de-corda
guardado
Num
quarto velho entubado
Pra
quando o verão chegar
Dá-se
gosto de lembrar
Da
terra onde fui criado.
Tem
arupemba e assadeira
Surrão,
pilão e grajau
Aguidá,
espeto, jirau
Foice,
chibanca, machado
Tem
picarete encabado
Para
um cacimbão cavar
Dá-se
gosto de lembrar
Da
terra onde fui criado.
Espingarda
socadeira
Cabresto
e chiquerador
Enxada
e até ciscador
Na
cerca velha encostado
Um
facão velho amolado
Pro
capim novo cortar
Dá-se
gosto de lembrar
Da
terra onde fui criado.
À
noite, ao som da viola
Lá
na beira da fogueira
A
moça namoradeira
Se
agarra ao namorado
E
num arrocho apertado
Mão
aqui, mão acolá...
Dá-se
gosto de lembrar
Da
terra onde fui criado.
Quando é na Semana Santa
A fartura tá na mesa
O povo vê a beleza
Que saiu de seu roçado
A Deus Pai, ajoelhado,
Agradecendo a rezar
Dá-se gosto de lembrar
Da terra onde fui criado.
Logo chega o mês de junho
E as festas de São João
É aquela animação
O forró rola pesado
É bêbado pra todo lado
Doidinho pra bagunçar
Dá-se gosto de lembrar
Da terra onde fui criado.
Logo sai uma mão de tapa
Pelas pontas do terreiro
Pois um cabra arruaceiro
Tá cheio de cana, exaltado
Não demora, e o Delegado
Chega pra farra acabar
Dá-se gosto de lembrar
Da terra onde fui criado.
O cabra vai pro xadrez
Resmungando palavrão
Leva logo um empurrão
De um soldado folgado
Mas um político é chamado
E manda o bêbado soltar
Dá-se gosto de lembrar
Da terra onde fui criado.
Assim vai passando a vida
O ano passa correndo
As coisas acontecendo
Naquele sertão amado
Festa, cantoria, reisado
Serenata no luar
Dá-se gosto de lembrar
Da terra onde fui criado.
Em outubro as eleições
Chegam pra fazer intriga
Discussão termina em briga
De eleitor exaltado
Os votos sendo comprado
Antes do cabra votar
Isso nem é bom lembrar
Da terra onde fui criado.
Lá pelas terras do Sul
A fartura tá na mesa
O povo vê a beleza
Que saiu de seu roçado
A Deus Pai, ajoelhado,
Agradecendo a rezar
Dá-se gosto de lembrar
Da terra onde fui criado.
Logo chega o mês de junho
E as festas de São João
É aquela animação
O forró rola pesado
É bêbado pra todo lado
Doidinho pra bagunçar
Dá-se gosto de lembrar
Da terra onde fui criado.
Logo sai uma mão de tapa
Pelas pontas do terreiro
Pois um cabra arruaceiro
Tá cheio de cana, exaltado
Não demora, e o Delegado
Chega pra farra acabar
Dá-se gosto de lembrar
Da terra onde fui criado.
O cabra vai pro xadrez
Resmungando palavrão
Leva logo um empurrão
De um soldado folgado
Mas um político é chamado
E manda o bêbado soltar
Dá-se gosto de lembrar
Da terra onde fui criado.
Assim vai passando a vida
O ano passa correndo
As coisas acontecendo
Naquele sertão amado
Festa, cantoria, reisado
Serenata no luar
Dá-se gosto de lembrar
Da terra onde fui criado.
Em outubro as eleições
Chegam pra fazer intriga
Discussão termina em briga
De eleitor exaltado
Os votos sendo comprado
Antes do cabra votar
Isso nem é bom lembrar
Da terra onde fui criado.
Lá pelas terras do Sul
O
sertanejo padece
Ao
Deus do céu faz a prece
Pede
um inverno arrojado
Só
relembrando o passado
Se
põe num canto a chorar
Já
nem quer mais se alembrar
Da
terra onde foi criado.
Começa
a fazer as contas
Fazendo
uma economia
Rezando
que chegue o dia
De
voltar pro chão amado
Pede
as férias animado
Marca
o dia de viajar
Num
vê a hora de chegar
Na
terra onde foi criado.
João Rodrigues Ferreira
Nenhum comentário:
Postar um comentário
JOgue seu comentário no Uru.