quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Meu primeiro prêmio literário

Cris e eu

Eu estava na faculdade havia 3 meses , quando surgiu a oportunidade de participar de um concurso literário. Meu professor de Latim e Literatura, Lúcio Valentim, me incentivou a escrever. Receei.
Podia concorrer todos os estudantes de Letras de qualquer Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Era muita gente boa concorrendo.
Intitulado "Prêmio Literário Nossa gente, nossas letras", o tema era sobre "Vidas Secas", uma das mais famosas obras de Graciliano Ramos. Como de seca eu entendia um pouco, resolvi participar. Escrevi, revisei, e minha amiga de turma Eliede formatou o texto e enviou.
O prêmio seria a publicação dos 20 melhores textos em uma coletânea. E eu me classifiquei. Foi uma emoção indescritível! Eu, diretamente de Riacho das Flores, acabava de entrar para o mundo literário.
O trabalho foi publicado pela Editora Record, e a premiação ocorreu na Biblioteca Nacional, com a participação de Elba Ramalho e de Luisa Ramos, filha de Graciliano Ramos.


Veja abaixo algumas fotos que registraram o momento.

 Luisa Ramos (filha de Graciliano Ramos) e eu

 Meu primeiro autógrafo

 Meu cunhado Alberto, irmão, camarada, e eu

 Eu e minha cunhada Ângela
 Eu e meu grande amigo Marins
Marins, eu, Cris, Beto, Ângela e meu pai, Gerardo Félix
Eu e meu pai (brindando)
Elba Ramalho (abrindo o show)
Veja o texto na íntegra:


Utopia Nordestina

O calor era insuportável. Nenhuma sombra havia no meio daquele nada. Verde ali, só alguns mandacarus. A cabeça de Fabiano fervia. Sinhá Vitória vinha logo atrás com os dois meninos, seguidos pela cachorra Baleia, que de vez em quando cheirava algum osso que encontrava mas logo desistia, pois o osso era tão duro que mais parecia uma pedra.

A família de retirantes marchava no meio daquela sequidão rumo a um futuro incerto, como muitos outros já haviam feito. Fabiano se arrependeu por não ter partido com seu Tomás da Bolandeira. Aquele velho sabido com certeza iria se dar bem na cidade grande. Não tinha ido junto por causa de sinhá Vitória, dizendo que não dava certo. Mulher desgraçada! Por causa dela, estava ali no meio daquele inferno, prestes a morrer de sede. Infeliz! Devia ter largado ela lá e levado os meninos.

Olhou para trás e sentiu pena daquela miserável que sofria tanto quanto ele. Como gostaria que a chuva chegasse, para não ter que deixar o querido sertão e acabar o sofrimento daqueles coitados. Uma lágrima caiu de seu rosto, enxugou-a com a mão empoeirada. Maldita seca! O sertão, outrora tão bonito, agora estava daquele jeito, triste, sem vida, só poeira e ossos.
Agora carregava o filho mais novo nas costas, pois o pequeno não agüentava mais a caminhada. Sinhá Vitória, com uma trouxa na cabeça, resmungava qualquer coisa enquanto segurava a mão do mais velho. Coitada! O sol deveria estar torrando os miolos daquela infeliz. A sede já apertava, o último gole d’água da cabaça já tinha acabado. Pediu a Deus que encontrassem um pouco de água barrenta, o que era quase impossível ali.

De repente, avistaram um juazeiro. Bendita árvore! A única que resistia àquilo tudo. Agora iriam descansar um pouco. Fabiano foi o primeiro a sentar, admirando-se com a quantidade de pássaros na árvore. Pensou um pouco, talvez tivesse água por perto, só podia ter. Logo Baleia apareceu com as patas molhadas. Era uma nascente de água cristalina. Beberam até matar a sede. O sertanejo tirou o chapéu e agradeceu a Deus. De sede não morreriam mais. Logo caíram num sono profundo.

O sertão estava bonito que dava gosto! O gado, gordo que era uma beleza! Sinhá Vitória e os meninos estavam gordos também. Até Baleia estava mais bonita. Também pudera! Fabiano agora era fazendeiro, tinha gado e terra, não dependia mais de patrão nem de ninguém. Nunca mais trocaria o Nordeste por lugar nenhum deste mundo. A miséria tinha acabado, não tinha mais seca, graças a Deus e a seu Tomás da Bolandeira.

O velho tinha voltado para o sertão e trazido com ele um doutor, tal de engenheiro agrônomo, para resolver o problema da seca. Seu Tomás sempre dissera que naquele chão tinha água de sobra. E tinha mesmo. Fizeram poços e barragens, canalizaram a água na terra toda. Estava feita a irrigação de que o velho tanto falava. O governo dividiu a terra entre o povo. Agora todos podiam plantar e colher seus próprios frutos. A seca tinha acabado.

Fizeram uma cooperativa, e o que sobrava da safra era vendida para a cidade grande. E Fabiano sorria! Seus dentes agora brancos e bem-cuidados era resultado de mais uma idéia de seu Tomás. Haviam construído um posto de saúde, e o governo dava assistência. E o povo agora sorria!

Fabiano botou os meninos na escola, pois estudar dava resultado. Não queria que os filhos fossem como ele. Não é que o diabo do velho tinha razão! Estudar era bom mesmo. Até sinhá Vitória queria aprender a ler, e aprendeu. Todas as crianças foram para a escola. Como estava diferente o sertão! A solução sempre estivera lá, esperando alguém para descobrir. Era como seu Tomás dizia: “Os poderosos jamais resolverão nossos problemas, Fabiano. Eles nos querem sempre burros e na miséria.” O velho tinha razão. Como era sabido aquele velho!

Mas agora acabara. O sertão era dos sertanejos, como sempre deveria ter sido. Pois o sertanejo nunca quis esmola, mas sim uma oportunidade para obter o seu próprio sustento. Nunca quis a terra de ninguém, mas sim condições para viver com dignidade no seu próprio chão. Aqueles miseráveis sugavam até a última gota de sangue do pobre homem. Isso também acabara.

O Nordeste agora era outro. Tinha água e comida, tinha fartura. O povo tinha estudo, tinha uma melhor visão do mundo, não era mais escravo da ignorância. Tudo de que o Sertanejo precisava era trabalho digno e educação. Fabiano tinha. O povo tinha isso. A miséria do Nordeste nunca foi a seca, e sim o descaso político.

Mas o nordestino venceu a ignorância, a fome e a seca. E o Nordeste agora sorri.
Este trabalho foi classificado no Prêmio Literário Nossa
Gente, Nossas Letras e publicado pela Record em 2003.

Um comentário:

  1. PARABÉNS COLEGA, SEU BLOG ESTÁ SHOW
    MUITO POÉTICO,SE HOUVESSE MAIS PESSOAS COM ESSE ESPÍRITO COM CERTEZA VIVERÍAMOS MUITO MELHOR.
    ABRAÇÃO.

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