Desde o começo do mundo
Os homens buscam a
glória
Neste enredo eles
se mesclam
Entre derrota e
vitória
Uns passam sem ser
notados
Mas outros ficam
marcados
Acabam fazendo
história.
No ano setenta e
oito
A Argentina
orgulhou-se
Pois Dieguito
Maradona
Para o mundo
apresentou-se
Com um futebol
rotundo
Ganhou a Copa do
Mundo
E campeão
consagrou-se.
Na outra ponta da
América
Longe de tanta
euforia
Sem fama de
Maradona
Mas com a mesma
alegria
Com mesma vontade e
raça
U'a bodega, Dona
Graça,
Em nosso Riacho
abria.
Nada de pompa, nem
luxo
Um quartinho com
balcão
U'a prateleira de
cana
Na mesa, um saco de
pão
Um pacote de
Maizena
Rapadura e Cibalena
Fumo de rolo e
sabão.
Ainda tinha um
refresco
Num pote velho enrolado
Com uma camisa
velha
Na areia molhada
enterrado
Mas a galera sorria
E muito feliz bebia
Como se fosse
gelado.
Uma sinuca na sala
Era a maior atração
A moçada fazia
farra
Era grande a
diversão
Ali faziam a muvuca
Iam do balcão pra
sinuca
Da sinuca pro
balcão.
Qualquer um era
bem-vindo
Pois lá jogava e
bebia
Podia ficar à
vontade
E por lá se
divertia
Mas se entornasse o
caneco
Depois botasse
boneco
A “Véa” com ele
corria.
Dona Graça era a
xerife
Ali atrás do balcão
Tava sempre
preparada
Para qualquer
confusão
Pois era
parada-dura
Um três oitão na
cintura
Muita bala e um
facão.
E Dona Graça fez
nome
Sua fama se
espalhou
Mesmo sendo muito
bruta
Muito freguês
conquistou
E melhorou, aliás
E uma geladeira a
gás
Com muito esforço
comprou.
Logo o sucesso
cresceu
A Bodega era
animada
Depois botou picolé
Para o bem da
meninada
Sábado à noite era
forró
E o povo arroxava o
nó
Bebendo cerva
gelada.
Um conterrâneo
chegava,
Endinheirado, do
Rio,
Logo fazia um forró
E brincava sem
fastio
Dançavam – moça e
rapaz –
Até se acabar o gás
Ou se queimar o
pavio.
Ao som de Beto
Barbosa
A juventude dançava
Vez ou outra u'a
mão de tapa
A peixeira outro
puxava
A mulherada corria
Dona Graça aparecia
E o forró
recomeçava.
Naqueles anos
difíceis
O jovem não ti'a
dinheiro
Quase nada se
ganhava
Trabalhando o dia
inteiro
E ao fazer 18 anos
Refazia todos seus
planos
E ia pro Rio de
Janeiro.
Jogava fora a
enxada
A chibanca e a
cabaça
Comprava um jogo de
pilha,
Meio litro de
cachaça
E na véspera da
partida
Fazia, como
despedida,
Um forró na Dona
Graça.
Assim que saía de
férias
Retornava ao seu
lugar
Pra visitar os
amigos
Fazer forró,
namorar,
Curtir e beber
cachaça
E, de novo, aqui na
Graça,
Se despedia ao
voltar.
Quantas coisas se
passaram
Que essa Bodega
viu...
Mas o mundo foi
mudando
E o Riacho evoluiu
E até que a energia
Num determinado dia
Por aqui, enfim,
surgiu.
E Dona Graça mandou
Fazer logo a
instalação
Comprou uma
geladeira
E uma televisão
E a partir daquele
dia
Jogou fora bateria,
Lamparina e lampião.
A Bodega ainda é
simples
E é o mesmo
ambiente
A casa é do mesmo
jeito
Daquela de
antigamente
Só que é bem
iluminada
E também foi
reformada
Mas não tá tão
diferente.
A calçada é
espaçosa
Dá pra gente se
sentar
Tocar violão, beber
cana
Comer carne e
relaxar
Conversa tem muito
não
Agora a conversação
É feita via
celular.
Tem tablet, tem
laptop
Na internet ligado
Iphone e WhatsApp
Ao mundo conectado
Tem dia que é
grande a peleja
É um gole na
cerveja
E um dedo no
teclado.
Dona Graça, vendo
isso,
Pensou no bem do
cliente
Resolveu modernizar
Investiu no
ambiente
Um Wi-fi mandou
botar
E agora este lugar
Ficou bem mais
atraente.
Agora pense a
beleza
Que está esta
calçada!
Wi-fi 24 horas
Com cerveja bem
gelada
Churrasco em cima
da mesa
Então falo com franqueza
Aqui não me falta
nada.
Você que é do
Riacho
Da turma de
antigamente
Quando tirar suas
férias
Venha aqui curtir
com a gente
Tomar cerveja ou
cachaça
Ver que a Bodega da
Graça
Hoje está bem
diferente.
Mas não perdeu o
glamour
Daqueles tempos de outrora
A Dona Graça ainda
é bruta
Vez ou outra dá-lhe
um fora
Era bom
antigamente...
Mas vou dizer
francamente
Tá muito melhor
agora.
Agora a Cyber
Bodega
No mundo está
antenada
Se quiser bater um
papo
Com a turma da
calçada
Pegue aí seu
celular
No WhatsApp é só
entrar
Pois a conversa é
fiada.
Entre aí no nosso
grupo
Não perca a
oportunidade
Saiba que nosso
Riacho
Tá sempre com
novidade
Além de se informar
Ainda pode
aproveitar
Para matar a
saudade.
Pra você que
antigamente
Viveu aqui emoções
Diz que bom foi o
passado
Compreendo suas
razões
Mas saiba que tudo
passa
Só a Bodega da
Graça
Atravessa gerações.
João Rodrigues
Ferreira
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